Prudência com as palavras?
Nunca. Henry Miller, escritor maldito, irreverência obesa, tinha honestidade nas palavras e permitia-se – excepcionalmente como homem moderno – à revolta nas e pelas palavras. Talvez por isso seria, sim, um pornográfico desbocado, maravilhoso. (Não está a gostar? Olhe, tem bom remédio, mude de site. Vá ler sobre futebol ou, então, saia de casa e vá ver montras.)
Autobiografia com ficção,
em estilo próprio de libertação, Henry Miller. O livro Trópico de Câncer (1934) foi apontado pela crítica como o exemplo mais contundente da sua bibliografia – mas é em Sexus (1949), Plexus (1953) e Nexus (1959) que ele atinge o pico na crueza do seu estilo.
Rosa-Crucificação é, de facto, um monumento literário – uma trilogia – com mais de mil e trezentas páginas. É aqui que Henry Miller conta a sua vida em Nova Iorque nos anos vinte e trinta: conta tudo o que é real no sentido mais profundo, sem manipular os próprios sentimentos, sem censurar o que pensava e sentia.
Sexus
chega mesmo a chocar os mais convencionais leitores. Henry Miller, à portuguesa um bom vivedor, está prestes a fazer trinta e três anos e está casado e vive num e com um frigorífico. Casamento absolutamente gelado, trabalha numa companhia de telégrafos enquanto sonha em ser escritor e apaixona-se perdidamente pela dançarina Mona.
Henry Miller experimenta, então, fugir da estabilidade que não o faz progredir e vai alimentando essa ruptura a cada capítulo que se segue. Quando não há fodas e erotismos, há o discorrer pesado de reflexões existenciais e monólogos filosóficos.
Plexus
Em Plexus, encontramos Henry Miller, a personagem principal, já imerso numa vida absolutamente perdida. Dentro de Plexus está uma extensão ainda maior da personalidade de Henry Miller. As reflexões e as divagações são ainda mais frequentes – e chatas mas, ao mesmo tempo, pode ser definido como a base da trilogia. Conseguimos ver a ligação de Sexus a Nexus como se fosse a fase adulta de uma vida dentro de outra vida. Isto é interessante.
No caso de Nexus,
a confusão é total. Mona envolve-se com outra mulher e manda pastar Henry Miller, tal e qual como ele havia feito com a mulher e a filha. Neste último volume da trilogia há mais densidade na descrição dos sentimentos e nas ideias compartilhadas pelo autor: há a conclusão de toda uma história.
A trilogia Rosa-Crucificação foi proibida em uma série de países, tal como aconteceu com mais alguns títulos de sua autoria, por dizerem conter uma linguagem abusiva e de conteúdo imoral – o que gerou a contestação de muita gente igualmente malvada a favor de Henry Miller. Na década sessenta, terminaria, enfim, a censura.
Térá sido grande a influência de Henry Miller na literatura mundial, sobretudo na norte-americana, desenvolvida a partir de meados da década de quarenta por Allen Ginsberg, William S. Burroughs, Charles Bukowski, Thomas Pynchon: na complexidade dos desejos que não são afectos.