E se a música punk fosse, muito mais do que um estilo, uma expressão cultural? Pouco interessa se é menina, a música punk, para poucos acordes, power chords ou sem solos. Interessa, isso sim, reconhecer tratar-se de música que grita – mesmo quando é pouco ruidosa – perante a sociedade que está mal em manifestação à cultura ou, até, à política vigente.
Pois, sim, a música punk é para pancados…
Ouça bem o que lhe vou dizer: estávamos em finais da década de setenta com os oitenta a estourar e era a loucura total com os Xutos & Pontapés ou os UHF. Maravilha, energia à solta, expansão, e nunca se sentiu tão rebeldemente feliz. Não estou enganada, pois não?
Então fica a saber que esses grupos musicais que ouvia e dançava, e ainda ouve que eu sei, foram dos primeiros da música punk em Portugal! Surpreendido? O que me interessa mesmo é que saia desse rectângulo onde está, tem de ser rectângulo visto que quadrado não dá para se esticar, e veja as coisas de outra maneira.
Quero desmistificar a associação da música punk à violência, aos cabeças rapadas. No início dos anos 80 o género streetpunk/oi!, começou a ser apreciado também por skinheads, cuja única música que ouviam antes era a da Jamaica, que carregaram a musica punk para outras subculturas urbanas. Mas foi só isso…
Tudo começou por ser, na música punk, contestação – contestação melódica ácida e crítica aos caminhos que a música rock estavam a seguir de rock progressivo; e contestação perante tanto preconceito…
Não é verdade que certos gostos musicais são, na maioria das vezes, interpretados como identificação de um indivíduo a uma certa postura ideológica distinta dentro da cultura punk, como o niilismo, o anarquismo, a cultura de rua?
E que aquele gajo, foi assim que o descreveu à sua mulher, que começou a andar com a sua filha tinha ares de punk, mal amanhado, querendo mesmo dizer que não é flor que se cheire?
Quero que olhe para a música punk como intervenção, como uma forma de dizer não; como, por exemplo, um manifesto político sem se usar as escadas do parlamento e sem um atirar de pedras penoso.
Quero que não confunda identidade com gosto musical e, ainda assim, que não meta no mesmo saco a música punk com os movimentos fascistas ou racistas.
Ora pense lá outra vez nos Xutos e Pontapés e nos UHF e na altura em que surgiram…
Quero que olhe para a música punk pelo ethos e a fundamentação ideológica simbólica do punk – associando-o à crítica e à contestação social; quero que olhe para a música punk como o pontapé de saída do Do It Yourself (DIY), tão importante na determinação dos novos movimentos sociais e culturais.
Quero. Como?
Música Punk na Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Veja esta iniciativa académica completamente invulgar acerca da música punk. Sabe o que eles estão a fazer? Estão a limpar esses pensamentos todos sujos, badalhocos mesmo, que tem sobre a música punk e dos chiqueiros a que a associa.
São intervenções interessantíssimas e que partem de pressupostos sociológicos para explicarem a cultura e a música punk no mundo e no nosso país.
São documentários e mostras de concertos. São manifestações culturais.
Porquê que não diz à sua filha para convidar o namorado punk para jantar aí em casa e verificar se é mesmo um gajo?