Nem sempre acordamos bem dispostos. Logo hoje que eu ia fazer um figurão com estas botas novas. Imaginem, cor de tijolo. Combinam lindamente com a minha camisola preferida. Quando olhei para a rua, a chuva dos dias anteriores parece que nem tinha acontecido; que sol maravilhoso. Calço as botas, não calço… Havia um barulho irritante de uma máquina do outro lado da rua. Sentia-me baralhada, sem ânimo. Depois do pequeno almoço, já com ânimo para o fru fru do dia, eis que o telefone toca. Era a Antónia a informar que não podia ir comigo. Outro contratempo. Ui, ui. Lets go. Pego no meu livro e ala que se faz tarde.
O que me anima agora é o livro, tem sido um bom companheiro. Além do enredo em si, este livro já viajou por vários países e locais, já passou por várias mãos, já assistiu a crises, choros, emoções e risos, mesmo gargalhadas. O que tem de especial a história? O enredo é tão simples e, no entanto intrigante. Aquele homem tem uma vida tão monótona e solitária, dedica-se a procurar algo, de forma metódica e lenta, muito lenta. Contudo, o leitor continua a procurar com ele, curioso.
Ora, procurar é algo que todos fazemos. Muitas vezes não sabemos bem o quê, apenas sabemos que nos falta algo. Aqueles dois homens que deambulavam pela livraria procuravam efectivamente algo. Um deles pegou num dos livros e sentou-se a ler. Será que era para decidir se a leitura compensava o investimento de comprar o livro, ou apenas para passar algum tempo livre, enquanto esperava por alguém ou apenas para voltar para casa, onde ninguém o esperava para lhe fazer companhia? Cá temos outra história paralela, a da personagem que que se encontra ali sentada, mas que pode ser transformada em ficção pela imaginação imediata de qualquer indivíduo.
Os livros usados são os mais apreciados. Aquele sentir das folhas maleáveis que podem sugerir várias histórias, uma variedade de personagens reais e fictícias. A imaginação é deslumbrante e imaginar que alguém esteve sentado na praia com aquele livro ou que viajou de comboio enquanto lia. Que género de pessoas teriam lido aquela história: um jovem professor na suas viagens diárias para a escola, uma mulher de meia idade que gosta de se sentar na praia ou esplanada a ler, enquanto observa as pessoas à sua volta.
Dizem que quem lê mais livros são as mulheres, o que nos parece um paradoxo, pois elas têm normalmente uma vida mais ocupada. Os homens lêem mais sobre política, desporto. As mulheres adoram romances, histórias mais ou menos reais, mas também lêem política, economia e outras áreas importantes do mundo atual.
O que move um indivíduo a sentar-se num lugar calmo ou agitado e abrir um livro cheio de letras e palavras pequeninas e ler, ler, quiçá durante horas? Os mistérios da personagem indivíduo!
Celestina Figueira