Somos hoje uma sociedade marcada pelas tecnologias, as redes sociais, a partilha de informação imediata. São várias as manifestações artísticas que assimilam a nova forma de estar no mundo, de o ver, de o pensar, de o apresentar como produto de consumo rápido: a fotografia, o cinema, as artes plásticas. E o teatro? Poderão as TIC mudar a forma como se faz e se assiste a uma peça?
As mutações sociais influenciam necessariamente a forma como nos expressamos, qualquer que seja a forma escolhida para dar vazão à necessidade de fazer conhecidos sentimentos, pensamentos, opiniões e desejos. Partindo do exemplo do teatro, há, em qualquer país que já tenha passado por períodos de ditadura, uma diferença assinalável entre a produção teatral durante estes tempos e a que ocorre em tempos de liberdade.
O desenvolvimento tecnológico estendeu-se a todos os sectores, quer artísticos, culturais, económicos, educacionais. Também no teatro se introduziram inovações na iluminação, sonoplastia, cenografia, figurinos, levando a uma progressiva actualização e modernização –experimentando novas técnicas, novas formas de fazer.
As novas tecnologias trouxeram possibilidades ao teatro que o aproximam do cinema e, à semelhança deste, é possível criarem-se cenários e actores virtuais, pelo que a representação teatral e público não necessitam já de coexistir no mesmo espaço físico, a projecção virtual de uma peça é assistida por espectadores de qualquer parte do mundo, ligados em rede, sem perdas de tempo ou transtornos económico-espaciais. A noção tradicional de “ir ao teatro” está a sofrer alterações.
O caso inglês
A plataforma Digital Theatre congrega parcerias várias companhias de teatro inglesas – como a Royal Opera House, Opera North ou Bush Theatre – que disponibilizam peças que podem ser vistas em linha ou descarregadas. O acesso não é gratuito, mas o espectador pode escolher entre alugar ou comprar o espectáculo que mais lhe convier, entre peças de teatro de autores aclamados e novos autores, musicais, óperas, ballet, documentários.
O GTV é outro exemplo de um projecto que pretende conciliar o antigo, digamos assim, e o moderno, para criar novas peças e actuações, incorporando técnicas e tecnologias diversificadas, com vista a alcançar comunidades diversificadas.
Haverá lugar às TIC no palco?
Todavia, não posso deixar de pensar que teatro teremos ou veremos se a ele ligarmos as novas tecnologias? Que ligação afectiva haverá se substituirmos a presença física no espaço do teatro pela presença virtual? Haverá lugar às TIC no palco?
Creio estarmos a assistir a um deslumbramento pelas possibilidades tecnológicas em palco, ainda que não seja realista evitar esta influência, uma vez que também o teatro é enriquecido por ela. Será necessário encontrar um equilíbrio em que a introdução de elementos tecnológicos permita explorar novas formas de fazer teatro sem quebrar com as ditas antigas e criar cisões com um público que perspectiva um teatro menos modernizado.
Haverá lugar e público para ambas as abordagens, tendo em conta a natureza experimentalista do ser-humano, não me parecendo possível contudo que a virtualidade seja arredada completamente do espaço físico.