Ler é bom e faz bem. É uma afirmação que se toma como verdadeira, porque a maioria assim a reconhece, principalmente aquelas pessoas que parecem ter nascido com um livro nas mãos e vivem de leitura em leitura, de novidade editorial em novidade editorial, como um peixe na água.
Este mundo de zen das leituras pode ser muito irritante para quem não lê, ou para quem não sabe por onde começar a ler, já que parece que todas as suas tentativas de pegar num livro e mergulhar de cabeça esbarram no desânimo e no sentimento de ter escolhido o livro errado, o autor errado, a hora errada, tudo errado.
Sejamos honestos, as pilhas de livros por lerem, as estantes das bibliotecas, as montras das livrarias, podem ser imagens bastantes assustadoras para os candidatos a leitores. É conhecido o desânimo com que muitos dos alunos nacionais encaram a entrada no Secundário e a perspectiva de ter de conhecer, à força das imposições programáticas, Eça de Queirós, Padre António Vieira ou José Saramago.
Perante este cenário que fazer? Pedir a alguém que resuma a história? Descarregar da Internet os resumos salvadores? Passar ao lado de leituras que seriam proveitosas?
Cinco passos podem ser dados para conseguir ser um leitor por excelência.
1. Defina as suas preferências
Se gosta de séries de crime e mistério, os livros policiais podem ser um bom ponto de partida; se é de histórias de amor de que gosta, não faltam opções de romances; mas se a sua praia é mais música, por que não começar por ler as biografias dos seus cantores preferidos?
O importante é saber minimamente quais os tipos de livros que lhe interessam e começar por aí. Com a prática e a curiosidade, pode aventurar-se noutros campos.
Conselho: escolha livros de que goste, para começar.
2. Comece com calma
Ler é como correr. Não passa pela cabeça de ninguém, pelo menos alguém são, um dia levantar-se do sofá e decidir calçar as sapatilhas e correr a maratona. Podemos até assumir que seja um pensamento legítimo, mas sabemos que dificilmente esse alguém correrá mais do que uns metros.
Correr implica treino, disciplina, uma alimentação saudável, bom equipamento. Ler, também.
Qualquer pessoa que não tenha lido mais do que a bula dos medicamentos ou o manual de instruções do telemóvel e decida iniciar-se no maravilhoso mundo das leituras por uns Maias, um Memorial do Convento ou um Senhor dos Anéis, vai sentir-se tentado a desistir ao fim de poucas páginas.
Para evitar desistências logo após a linha de partida, não esqueça, os livros de dimensões mais pequenas vão influenciar o seu psicológico, porque lhe darão a sensação de ser uma tarefa mais leve e de tomar menos tempo. Se ficar tentado a desistir, o número reduzido de páginas será um incentivo a continuar.
Conselho: escolha livros de pequena dimensão para começar.
3. Faça um plano de leitura.
Retomemos o exemplo da corrida. Todo o atleta sabe que precisa de um plano rigoroso de treino, a horas certas, quer chova, quer faça sol, quer tenha vontade, quer não tenha, tudo porque o objectivo principal é ficar em forma e ganhar, no dia da competição.
Na leitura, embora não haja uma competição com medalhas e prémios pecuniários à mistura, há a meta do conhecimento, a satisfação de cumprir uma tarefa, a valorização do leitor e enriquecimento que um livro sempre dá.
Por isso, estabeleça um horário para ler, dedique dez minutos diários ao livro de eleição, quer lhe apeteça, quer não, sem desistir. Notará ao fim de um tempo que esses dez minutos de sofrimento se transformar;ao em horas de leitura agradável e difícil será pôr o livro de parte, para continuar outras tarefas igualmente dignas, como dormir, por exemplo.
Conselho: estabeleça um horário de leitura e cumpra-o.
4. Prepare-se para a leitura
Siga o conselho de Italo Calvino e estenda as indicações do autor, em relação ao seu próprio livro, a todos os livros que ler.
Estás a começar a ler o novo romance Se numa noite de Inverno um viajante de Italo Calvino. Descontrai-te. Recolhe-te. Afasta de ti todos os outros pensamentos. Deixa esfumar-se no indistinto o mundo que te rodeia. A porta é melhor fechá-la; lá dentro a televisão está sempre acesa. Diz aos outros: “Estou a ler! Não quero que me incomodem!”. Não devem ter-te ouvido, com aquele barulho todo; fala mais alto, grita: “Estou a começar a ler o novo romance de Italo Calvino!” Ou se não quiseres não digas nada; esperemos que te deixem em paz. (ler mais)
Conselho: siga um ritual de preparação.
5. Tome nota dos seus direitos
Daniel Pennac, escritor francês e professor, sabe quão difícil é conseguir motivação para a leitura. Foi a pensar nisso que apontou dez direitos que todo e qualquer leitor deve ter em mente na hora de abrir um livro.
Os Direitos Inalienáveis do Leitor (Daniel Pennac)
1 O Direito de Não Ler
2 O Direito de Saltar Páginas
3 O Direito de Não Acabar Um Livro
4 O Direito de Reler
5 O Direito de Ler Não Importa o Quê
6 O Direito de Amar os «Heróis» dos Romances
7 O Direito de Ler Não Importa Onde
8 O Direito de Saltar de Livro em Livro
9 O Direito de Ler em Voz Alta
10 O Direito de Não Falar do Que se Leu
in Pennac, Daniel (1993). Como um Romance. Porto: Edições Asa.
Conselho: conheça as regras e sinta-se livre para as quebrar.
Agora que tem um plano traçado, o livro certo à mão, o local ideal e o conforto de saber que pode desistir e começar tudo do início, relaxe e leia.