A Arte das Rendas de Bilros
É a renda. Cruzamento sucessivo de fios, poesia matemática, até aparecer um desenho pelas mãos das rendilheiras de Vila do Conde. No Museu das Rendas pode-se tanto apreciar um enxoval de noiva, com a riqueza da renda aplicada, como as montras carregadas com belezuras de inspiração barroca – muitas delas com temáticas ligadas ao mar.
Também há, na exposição, pedaços da história da renda de bilros e olhares lançados à técnica e aos instrumentos utilizados no fabrico destas teias rendilhadas com minúcia. Porque a pérola do Núcleo Museológico das Rendas de Bilros não é a obra feita mas a que se está a fazer: ver, ao vivo, o conjunto de rendilheiras a trabalhar, renda em alquimia, no cenário tão cheio de luz e de talento da Casa do Vinhal.
A Casa do Vinhal,
recuperada pela Câmara Municipal, é um típico solar urbano do Minho com imensa beleza e espaço de poucas assoalhadas, na tentativa de dotar o centro histórico com equipamentos sócio-culturais – não só para prender a população à terra como para dinamizar a cultura urbana.
A antiga Casa do Vinhal, agora recuperada, foi entretanto adaptada para a criação do Centro de Formação Profissional de Rendas de Bilros que, no entanto, passou a funcionar no Convento do Carmo por falta de condições. Aguardam-se as obras no edifício do Vinhal.
Restaurada a Casa do Vinhal, nasceu a vontade de musealizar a renda, as rendas, reunindo-se um conjunto de peças e documentos cuja conservação é imprescindível para a preservação de uma importante fatia da memória colectiva de Vila do Conde: assim nasceu o Núcleo Meseológico – é lá que se confrontam, a um só tempo, com todas as questões técnicas ligadas à execução da renda, ouvindo o cantar dos bilros, experientes mãos, a concentração e a discreta e serena simpatia das fazedoras de rendas de Vila do Conde.
Obra de artesanato típico
o fabrico das rendas de bilros data, pelo que há documentado, do século XVI, afirmando-se, ao longo dos tempos, como um dos mais expressivos ex-libris da cidade.
Embora com origem controversa, a técnica artesanal das rendas de bilros poderá ter sido trazida do norte da Europa por marinheiros e comerciantes que, então, mantinham importantes relações comerciais com a Flandres. Vila do Conde é, actualmente, o centro produtor de rendas de bilros mais importante do país – quer pela qualidade dos trabalhos, quer pelo número de pessoas que envolve no fabrico.
No presente, novos caminhos se abrem e preservando o passado, sempre preservando, memórias físicas, utilizam-se novos materiais, procuram-se novas aplicações nas decorações, para as casas e para a moda, e estabelecem-se contactos com centros produtores de renda de bilros espalhados pela Europa. Assim se garante o futuro da secular arte de dedilhar os bilros a poesia matemática: assim são as rendas.