Ângela Ferreira, raízes Moçambicanas, investiga – e estrutura-se – acerca das origens da identidade e dos problemas nas dialécticas interculturais que explora interpelando, muitas vezes, certas obras e discursos do Modernismo. O seu trabalho foi dominado, desde cedo, por uma clara intenção política.
A artista,
vive e trabalha em Lisboa, com passagens pela Africa do Sul, onde produz temas e formas enraizados em memórias da sociedade industrial contemporânea. Ângela Ferreira nasceu em Maputo, na antiga colónia portuguesa de Moçambique, onde viveu até 1973, e formou-se em Escultura, pela Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul do apartheid.
Assistiu a todo o ambiente revolucionário do pós 25 de Abril e, em 1976, regressou a África estabelecendo-se na Cidade do Cabo onde viria a desenvolver os seus estudos artísticos na University of Cape Town, obtendo, em 1981, o B.A. em Fine Arts e Sculpture e em 1983 o M.F.A. em Sculture. Tem trabalhado sempre ao encontro da sua própria biografia e a preocupação pós-colonialista, em desconstruir a teoria e a história, vem-se afirmando, menos na escultura formal dos primeiros anos – mas sobretudo nas fotografias, vídeos e instalações que hoje apresenta, e que a levaram a representar Portugal na Bienal de Veneza de 2007.
Africa marcante
Artista contemporânea multifacetada, a sua vivência no continente africano marca profundamente a sua obra através de leituras irónicas e autobiográficas. Abordagens como a geopolítica encontram-se entre os principais pontos de partida, e reflexão, dos trabalhos de Ângela Ferreira -tornando-se veículos para pesquisas em torno da definição de verdades objectivas em determinados campos da arte, das políticas de género e da história, ou mesmo como forma de levantar questões acerca das definições culturais de certos países e das respectivas sociedades.
Recorrendo a uma variedade de técnicas que vão desde a fotografia e vídeo até à instalação e escultura, onde amiúde utiliza materiais da construção civil, a sua prática artística encontra referências na arte modernista, na arte do minimalismo e em práticas desconstrutivistas. O desconstrutivismo torna-se, assim, numa metáfora da desconstrução analítica da teoria da arte moderna, ou seja, a artista apropria-se de métodos modernistas na tentativa de estimular a consciência de como os sistemas culturais fazem negociação com os conceitos de aqui e ali, de centro e periferia e das complexidades do original e do simulacro.
À procura da definição
da arte de Ângela Ferreira, para uma formulação em termos extremos, pode dizer-se que a artista usa e analisa as estruturas normativas do modernismo para, a partir de uma dupla perspectiva africana e europeia, questionar a sua necessidade ou inutilidade. A apropriação (e aquela espécie de negociação) dessas estruturas normativas, materializada por Ângela Ferreira nos seus trabalhos, encontram pertinência tanto no contexto africano – pela relação de dependência cultural estratégica iniciada pelos poderes europeus coloniais -como no que concerne aos contextos europeu e norte-americano, na consciencialização dos métodos de criação de significado no campo de arte.