Há muito que não me debruçava sobre o património cultural português. Um assunto que tanto nos diz como sociedade e infelizmente demasiadas vezes relegado para o esquecimento, senão empobrecimento.
Vivemos tempos difíceis, muito difíceis. Disso, não há dúvida! A crise que se avolumou no nosso país rouba-nos, de forma hedionda, a casa onde vivemos, o pão de cada dia e a dignidade como povo. Quanto às duas primeiras situações, não me vou perde em ilações, pois são bem dispensadas pelos motivos óbvios. No que respeita à última consideração, reporto-me concretamente à necessidade da salvaguarda e valorização da nossa cultura e do nosso património cultural, material e imaterial. Pode parecer-nos, à priori, uma arrogância ou falta de escrúpulos a comparação, mas para estas três situações é necessária uma solução mais que urgente!
Estive, num outro dia, em Tomar, lá no alto, numa incursão emotiva, perto do imponente e avassaladoramente majestoso Convento de Cristo e, embora não estivesse sozinha, ele lá estava, como tantos outros neste país, sozinho, orgulhosamente só… e meio abandonado, meio esquecido…
Recordei, com o espírito entorpecido e com uma voz comedida, as palavras sentidas de Filipe Luís (vide crónica Patos-bravos, in Visão, N.º 827) a propósito da degradação do nosso património cultural arquitectónico e a amargura de ver a destruição de alguns dos mais belos monumentos nacionais que, à mercê de um espírito mesquinho, caquéctico e analfabeto, torpe e acomodado, não vê como prioridade um investimento na recuperação e preservação da nossa memória colectiva, sendo esta visão, ou falta dela, uma verdadeira insensatez cívica e moral. Insensatez de não ver na conservação do nosso património cultural, na sua valorização e divulgação ao mundo, uma janela aberta para aceleração de um turismo que tem futuro e que pode significar uma “lufada de ar fresco”, num país mergulhado numa crise económica de gravíssima dimensão. A possibilidade de emprego, materializada no apoio a projectos de preservação e divulgação do património, poderia ser muito bem alimentada pelas autarquias e outros poderes locais e regionais, sem que, para tal, seja necessário recorrer aos gastos avassaladores outrora despendidos, com toda a desfaçatez, para as mais variadas obras de envergadura nacional e que hoje não servem como deveriam servir o público em geral.
Vivendo no país mais antigo da Europa e, por conseguinte, num dos mais ricos em História e memória (internacionalmente reconhecida pela UNESCO), assiste-me o dever de mostrar esta inquietação. Uma inquietação que deverá ser de todos! Para que governantes e demais precursores possam lançar as bases de um novo e renovado mercado, baseado na divulgação do que é nosso, urge acordar deste entorpecimento e, de uma vez por todas, não deixar para terceiro plano a aposta que deverá ser realizada neste sector.
Um dia, que eu não quero ver!, quando as curvas arquitectónicas e as arestas, outrora com tanto suor e lágrimas trabalhadas, estiverem gastas pelo tempo e o crime estiver cometido, cairá nos nossos ombros o peso bruto e infame da irresponsabilidade. Nessa altura, não haverá banco para os réus, pois ficarão sumidos e absortos na penumbra da ofensa cometida contra estas fortalezas indefesas. E assim vamos vivendo, contentes e imprudentes, enquanto monumentos, locais e demais bens culturais, continuam irreprimivelmente altaneiros fazendo História, mas tão “orgulhosamente sós” e… incrivelmente deixados à sua sorte. Que a alma nos valha e a força nos acompanhe, para que não os deixemos cair no mais alto baluarte do esquecimento.
Gosto desse seu amor pela pátria! Parabéns!!!!!!
Sempre! Serei sempre defensora destes imponentes e majestodos monumentos que tanta história trazem consigo!
Extraordinário, não esperava outra coisa… Como já tinha dito, é “beber cada palavra”…
Um grande beijinho e muitos parabéns, está fantastico!!!
Obrigada, havemos de continuar a caminhar! Sempre!
Muito bem, Soninha. gostei e as tuas palavras espelham bem a dormência que esta ‘crise’ veio acentuar! Sim, porque não é de agora o nosso desleixo para com as obras que nos sobreviverão! O interesse e muito pouco cuidado com o nosso património têm sofrido, sempre, com a nossa ignorância e ‘provincianismo’!! De qualquer modo gostamos muito e vamos muito ao estrangeiro para visitar os palácios, jardins, museus, eta etc etc…. e até gostamos e não nos importamos de pagar. Lá, claro! Cá deixamos cair e sai mais barato ruir do que reconstruir. Enfm!
Continua Soninha!
Obrigada minha querida,
Continuaremso a lutar!
A ganância e o desprezo que eu em nada me orgulho pela Humanidade por partes de alguns é enorme.
Vivemos num tempo em que se colocam ideais acima das pessoas. Aliás, aqueles que desprezam o seu próprio património cultural por pequenos luxos, interesses pessoais e vícios intelectuais são os mesmos que um dia mais tarde vão jurar que nunca o fizeram, em prol do seu egocentrismo politico.
Enfim… quero crer que novas mentalidades possam surgir e nos possam salvar deste terrível desfecho.
Obrigada Carlos! Todos juntos havemos de elevar a nossa voz!
Excelente artigo; Espelha bem o desespero intelectual na alma de uma cidadã que ama história, que a sente como filha de boa gente, e filha de um magnífico património português.
Bem hajas!
Obrigada minha querida! Beijinhos e boa sorte
Somos efetivamente um país riquíssimo em história, cultura, valor e memória. Somos efetivamente um povo com uma identidade que vai para além dos séculos, dos mares e das terras. Somos um povo firme e rude (rude no seu melhor sentido: na Força). Tudo isto seria mais que suficiente para querermos fazer perdurar, para lá das mazelas do tempo, os nossos feitos – vividos e construídos. Agora sei que se somos gentes de boas vontades, também sei que estamos arreigados a procedimentos, a hábitos, vontades de quem quer e má vontade dos que podem. O nosso património, esteja localizado onde quer que seja, faz parte de uma teia de organismos, burocracias, fundos e, sobretudo falta deles, a maior parte das vezes alheio ao poder local. É triste vermos que mais e mais pode sempre ser feito. Não é também um cenário mais positivo para aqueles que diariamente trabalham para manter cada um dos nossos referenciais históricos aptos à visita e motivo orgulho nacional. A esperança é longínqua, tanto quanto o nosso vasto património, mas não podemos esquecer nem esperar que políticas favoráveis venham, para já, soprando a favor. Não que o Património não o mereça. Mas porque o povo português no Hoje não está a ser respeitado, nem a educação (no património e na cultura inclusivamente) do Amanhã, não está a ser acautelada. Enquanto as nossas estruturas olharem para cada monumento como um “mono” e um absorvente de recursos “tapa-buracos”, o panorama não muda. Apostar no turismo e rentabilizá-lo é o futuro sem dúvida, basta apenas que quem pode Hoje, olhe para o que se pensou no auge do nosso Ontem. Sempre fomos um povo de visão, falta-nos agora estratégia.
Querida amiga,
Tudo o que escreves é “música para os meus ouvidos”, “ouro sobre azul”, sabes o que dizes e como o dizes! Felizmente há pessoas como tu que não se incluem no grupo dos que permanecem na inércia! Bem hajas e continua com o trabalho que fazes! Espero que consigas chegar longe, como mereces. beijinhos
Cara Sónia,
é com agrado que leio com alguma regularidade os teus escritos, e espero que os mesmos cheguem a quem de direito neste país.
No que respeita ao tema que lanças é de uma profunda tristeza pensar a forma tem sido tratada a cultura e o património do país. Sob o pretexto do desenvolvimento cometeram-se autenticos crimes de lesa pátria entre os quais o abandono do património arquitectónico cuja importância e potencial de aproveitamento são bem maiores que a construção de autenticos elefantes brancos cujo retorno, a existir, no limite, demorará décadas, mas cuja história do país de certeza não contará.
Não chega a Portugal pregar os benefícios da exportação, venha ela pela venda de bens ou serviços ou pelo turismo (de forma indireta), há que, acima de tudo isso, fazer o trabalho de casa e tratar o país histórico e cultural como realmente o passado deste país à beira mar plantado merece.
Pensar o país e acima de tudo desenvolver o país cultural e historicamente é uma tarefa infinitamente mais dura e trabalhosa que erguer edifícios e/ou cortar regalias a funcionários ou aumentar impostos. Para desenvolver um país é necessária planificação a 15/20 anos, com um plano estratégico estruturado que vá para além dos mandatos dos Governos, que para além dos partidos. Mas esse, é um jogo que os políticos portugueses não querem nem sabem jogar, preferindo o xadrez da economia dos mercados onde tudo se ganha e se sai sempre impune.
😉
Muito obrigada Nuno,
Pelo teu contributo, pelas palavras tão certeiras e assertivas! Prevê-se mais um negro cenário para o próximo ano (2014). Eu quero continuar a acreditar, tenho esperança! Esta nunca me faltou, nunca a deixei fugir! Por isso, aproveito estes momentos e espaços, sempre que posso e me permitem, para LEVANTAR a VOZ. A escrita é a minha forma de ser e de me encontrar com o mundo e com o que me rodeia, é a minha forma de chegar mais longe, se tal for possível! Ainda bem que chegou até ti! Bem hajas!
Bravo Sónia!!! Sem dúvida, um texto belíssimo! Já tinha comentado, mas depois não consegui publicar… , de qualquer maneira repito o que tinha sentido ao ler as tuas palavras: emoção de ter conseguido compreender, interpretar, sentir as tuas palavras! Estamos infelizes, sós, abandonados, é certo, porém conseguimos ouvir, ler, sentir, compreender, relacionar… é uma dádiva!!! Seja por imperativos de incapacidades involuntárias, seja por força de mentecaptas e acéfalas, NÓS, ao invés, “chegamos lá”!!! Só por isso, somos importantes, porque cada vez mais raras(os), exclusivos e quase únicos! Podemos afirmar e reafirmar a voz do grande poeta e senhor da literatura portuguesa: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”! Beijinhos grandes!!!
🙂 OLá minha amiga. Não tenho mais palavras para acrescentar às que já disseste! E disseste tudo! Chegámos lá! 😉 E havemos de chegar mais longe! Beijinhos
É de facto muito triste que tenhamos deixado chegar a situação a este ponto. Eu próprio faço divulgação na Internet em vários espaços de Turismo sobre o Património Arquitectónico e Paisagístico Português. Estive recentemente em contacto com autoridades sobre a matéria e, embora a situação seja ainda preocupante o que vi e ouvi deixou-me um pouco mais tranquilo. Durante anos houve muito desleixo na preservação do Património mas desde há uns anos par cá tem sido feito muito trabalho para recuperar alguns monumentos. Ainda não chegámos a uma situação ideal, muito longe disso, há ainda muito que fazer mas hoje em dia quem de direito (autarquias, concelhos, etc.) está muito mais ciente da importância que a Cultura tem para as diferentes regiões. O problema agora é outro, que toda a gente já sabe: a falta de dinheiro.
Olá Pedro,
Muito obrigada pelo teu contributo. Sim, é verdade, a situação tem vindo a sofrer alterações no que respeita ao interesse manifestado, mas é necessário fazer mais. Há pequenos projectos que, bem desenhados/planificados, poderaim ser apresentados às autarquias no sentido de contornar a situaçao, projectos que talvez não necessitassem de financiamento a grande escala. É preciso incentivar, motivar os jovens e profissionais da área, é preciso criar, propor, fazer!
Obrigada, mais uma vez!
Adorei
De facto uma causa digna de ser defendida!
Mas é verdade também que há tantos fogos a apagar e aplica-se a “lei do mais forte”. O mais forte em termos de poder, influência ou apenas de palavras.
Aprecio muito a entrada num edifício com história, tentando imaginar o que se faria lá há 100, 200 ou mais anos. Estou convencido que o que realmente valer a pena, haverá sempre quem os proteja e conserve.
Gostei muito desta tua publicação.
Parabéns!!!!
beijos