Quem desejou,
sabia que O homem duplicado de José Saramago podia bem chegar a filme. Foi uma adaptação que resultou em Enemy, realizado pelo Canadiano Denis Villeneuve numa co-produção hispano canadiana com o argumentista espanhol Javier Gullón. Os produtores descrevem o filme como um “thriller” erótico que explora a mente de um homem em crise. No filme, Adam é um professor que leva uma vida monótona até que descobre a existência de Anthony, um actor de pouca relevância que é fisicamente igual a ele. Destacam-se, como papéis femininos, as presenças de Sarah Gadon, Mélanie Laurent e Isabella Rossellini e o actor norte-americano Jake Gyllenhaal como protagonista.
No livro O homem duplicado,
Tertuliano Máximo Afonso, professor de História no ensino secundário, «vive só e aborrece-se», «esteve casado e não se lembra do que o levou ao matrimónio, divorciou-se e agora não quer nem lembrar-se dos motivos por que se separou». Uma noite, em casa, ao rever um filme na televisão, «levantou-se da cadeira, ajoelhou-se diante do televisor, a cara tão perto do ecrã quanto lhe permitia a visão, Sou eu, disse, e outra vez sentiu que se lhe eriçavam os pêlos do corpo».
Depois desta inesperada descoberta, de um homem exactamente igual a si, Tertuliano Máximo Afonso, o que vive só e se aborrece, parte à descoberta desse outro homem – o homem duplicado, disse José Saramago.
A empolgante história dessa procura; as surpreendentes circunstâncias do encontro; o seu dramático desfecho. Livro é livro e José Saramago é José Saramago.
Quem é mesmo José Saramago?
Pode já não estar, mas continua a ser. José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, a 16 de Novembro de 1922, se bem que o registo oficial mencione, como data do nascimento, o dia 18. (Antigamente havia muito a confusão dos registos. Mas também o que é que isso importa??
Os seus pais emigraram para Lisboa quando ele sequer tinha dois anos e o seu primeiro emprego terá sido como serralheiro mecânico – tendo depois passado por outras profissões: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista.
Publicou o seu primeiro livro, um romance (Terra do Pecado), em 1947. Depois esteve em pousio prolongado, sem publicar, até 1966. A partir de 1976 passou a viver apenas do seu trabalho literário: primeiro como tradutor e depois como autor.
Casou com Pilar del Río, em 1988, e em Fevereiro de 1993 passou a dividir o seu tempo entre a sua residência habitual em Lisboa e a ilha de Lanzarote no arquipélago de Canárias (Espanha). Em 1998, foi-lhe atribuído o Prémio Nobel de Literatura. José Saramago morreu a 18 de Junho de 2010. E mereceu, do nosso Presidente da República, umas singelas palavras. É o que temos.
Agora a sério
José Saramago é um monstro gigante, enorme, tão grande que até assusta, de criatividade. Se tem vezes que a sua narrativa é hipnótica, porque empurra – pelo menos para mim – o leitor à sonolência, tal sinuosidade é engolida pelo resto, o resto que ele inventa.
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