Tendemos a escolher quem amamos como se quem amassemos fosse o nosso espelho, como se outro fosse “réplica ” (palavra de João Teixeira Lopes em p3.publico.pt/actualidade/sociedade/1464/logica-dos-afectos) nossa.
Queremos dominar o/a outro/a, trazê-lo/a para o nosso mundo, rendê-lo/a aos nossos caprichos. Mas até que ponto teremos esse direito? E até que ponto aquilo que precisamos que o outro seja é um completo capricho nosso?!
No meio destas interrogações, vem-me à mente a história dos dois burros atados um ao lado do outro, tendo cada um de seu lado uma faixa de erva apetitosa; ora cada um puxa para seu lado para alcançar o seu montinho de erva e assim não conseguem alcançar, nenhum deles, o dito montinho. Até que se sentam, já exaustos e famintos, e têm uma ideia. Resolvem então ir os dois juntos a um monte de um lado e depois novamente ambos irem juntos ao outro.
Se existem almas gémeas, não sei o que isso é, pois até hoje não conheci um único ser que aspirasse todos os ideais que eu, que tivesse os mesmos gostos, que concordasse em tudo comigo, no fundo que visse sempre o mundo como se seus olhos fossem os meus.
Não aborto o AMOR, claro que não. A verdade é que os seres que conheço andam numa luta pelo MESMO, tentam superar-se a cada momento, ou a Terra não girasse, feita de homens e mulheres em constante movimento também.
Para mim, existe sim um olhar diferente de vez em quando. Hoje sou eu que visto os olhos da outra pessoa, amanhã é o outro que veste os meus, e assim vamos caminhando lado a lado com os olhos postos no mesmo objetivo.
Temos que nos adaptar ao outro e isso, quando equilibrado, não significa subjugarmo-nos ao outro, porque o outro também é impelido ao mesmo processo de se adaptar a nós.
O diálogo é fundamental. Atualmente, nunca durmo sem antes falar com o meu marido sobre o que me inquieta e isso resulta. Já fui uma ostra fechada em copas, de tal forma, que já nem sabia o que me inquietava e sofria, sofria, num gesto surdo e calado, que me impedia de dormir uma noite inteira. Era abanada vezes sem conta por meu marido na cama por forma a explicar-lhe o meu estado de choro compulsivo, porém de tão ostra ser nem conseguia articular um discurso, pois tinha medo de ser rejeitada, de represálias, no fundo de achar meus dilemas puramente infantis. Hoje sei que isso são complexos e quando derrubamos o muro dos complexos, tudo fica bem mais fácil. Se eu der um passo de coragem, o GRANDE AMOR_aquele ente superior em que acreditamos_ dará mil para me ajudar!
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