“Deus fez uma estátua de barro à sua própria imagem e quis que essa estátua possuísse uma alma. Mas a alma recusou-se a ser aprisionada no corpo, pois é de sua natureza ser livre e voar à vontade. Então Deus pediu aos anjos que tocassem sua música. E a medida que os anjos tocavam, a alma ficou extasiada. Para poder sentir melhor a música e ouvi-la de perto, a alma entrou no corpo. A verdade porém é que a própria alma era o som e ela entrou no corpo para experimentar e ouvir a música da vida.”(de uma lenda da Pérsia, segundo o poeta Hafiz, em trecho de um artigo de Cláudia Lelis, http://www.analisebioenergetica.com/flaab/?p=298).
Escrever um memorial, como bem indica o nome dado a este tipo de texto, é o ato de “recuperar aquilo que, para o autor, foi importante em um determinado evento”. Então, para cumprir com esta tarefa do curso, estou aqui sentada com meu laptop, relembrando tudo o que vi, ouvi, senti, nas aulas da Susana e, buscando entender como as vivências, exercícios e informações adquiridas repercutiram em mim. A priori posso afirmar que todas as aulas a que assisti tiveram o efeito de uma sessão de relaxamento bastante eficaz. Os movimentos para aquecimento do corpo, das cordas vocais, da garganta, a roda de mãos dadas e a sensação de pertencer a um grupo, os barulhos, sons, assopros e bramidos, caretas, “caras e bocas”, atividades sempre repetidas em cada aula, tiveram o dom de ajudar a relaxar meus ombros e pescoço (cansados de tanto guiar “serra acima, serra abaixo”). Vocalizar sons, letras (vogais, consoantes), sílabas, palavras – cantar – foi atividade que, para mim, sempre promoveu alegria e movimento de energia, o que encontrei no curso que hoje relembro.
Muitas novidades foram aprendidas – não sabia que ” a voz é marca única e singular do sujeito”, como nos disse Susana em sua aula, a ponto de se poder identificar o autor da fala com a mesma exatidão que através das impressões digitais – outras tantas foram conscientizadas, como ao que se refere a frase de Pedro Bloch, “a voz é a expressão sonora da personalidade e serve para melhor transmitirmos o que somos e sentimos”, especialmente quando nos damos conta que a força de uma “fala” está nas características de expressividade que o autor lhe empresta – tom, volume, ritmo, velocidade – que podem ser alteradas mas, também é altamente influenciada pelo timbre de voz de quem a diz, qualidade essa que é nata, marca registrada de cada um. Estas funcionalidades da fala me permitiram entender porque, às vezes, reclamam que estou falando de forma “incisiva demais” quando eu, que me ouço de dentro, entendo que só estou falando “exatamente aquilo que penso”. Enfim, quem está de dentro da fala, eu no caso, escuta de forma diferente daquele que está de fora, o ouvinte que nem sempre me conhece como indivíduo e que se choca com as características “mais leoninas” da minha forma de falar. Neste caso, posso afirmar que este curso teve uma importância significativa para o momento de vida que atravesso pois, na busca pelo auto-conhecimento, pela consciência interior ampliada, acredito que hoje estou mais consciente e integrada comigo mesma e com o mundo que me cerca, graças à compreensão dos efeitos energéticos que podemos gerar com a voz. Estes efeitos energéticos são evidenciados pela reação daqueles que nos ouvem, cada qual um indivíduo, um mundo em si, que ouve com empatia, ou repulsa, uma mesma frase. No final das contas, através da fala (mas não só) é que o ser humano se comunica entre seus iguais. Por esta razão é da maior importância que saibamos como gerenciar este instrumento de comunicação – a fala, a voz, a expressão verbal. No meu caso, que tenho voz forte, sou impulsiva, falo o que penso, descobri porque muitas vezes as pessoas que me ouvem se assustam, se intimidam, reclamam, ou se tornam agressivas. Enfim, o meu instrumento de comunicação verbal é mesmo bastante incisivo – me dei conta disso, e também aprendi sobre as possibilidades de se aprender uma nova forma para a voz, a prestar atenção à respiração, à postura corporal e, principalmente, a colocar na voz a verdadeira intenção que vai no coração.
Como se diz em Portugal, numa canção popular “quem canta seus males espanta”, sabemos que o maior instrumento que temos é o nosso corpo e que, quando recuperamos o nosso som interior, também recuperamos o domínio do nosso(s) corpo(s), portanto, nos curamos. Quando os males são espantados a alma fica curada.
Se já encontrei “minha voz”? Talvez ainda não, talvez não completamente mas, estou a caminho, isso já sei. Também sei que a “minha voz”, aquela que traduz a minha essência espiritual, tem sons tanto de fogo quanto de terra, água e ar – murmúrios e ventanias, chamas e polvorosa, e a fertilidade, da terra bem adubada e irrigada, que vem as soma dos 4 elementos quando bem equilibrados.
A dona da voz sou eu, a voz da dona está em formação, se ajustando para que, ao ressoar no universo, o equilíbrio seja perfeito. Nesse momento serei livre e completa.
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